Recordando-lhe

É a mistura de um sorriso envergonhado, com uma lágrima teimosa. 
É isso que acontece quando lhe recordo. 
Lembro-me quando dizia “reza por mim Xaninha” e eu respondia “e a irmã por mim, que tem ligação direta lá com o nosso senhor”, e dizia sempre “eu rezo muito por ti, rezo por todos!”, essa fé inexplicável, esse exemplo contagiante, esse amor admirável, fazem-me sorrir. 
Sem muitas palavras (porque era mulher de exemplos e não de palavras) ensinou-me o que era amar Jesus eucarístico, ensinou-me o valor do abraço, o valor do mimo, o valor do sorriso, o valor da gargalhada, o valor do silêncio, da oração, da paz.
Só queria poder ter a certeza que eu a fiz sentir tão especial como me fez a mim. A preocupação de que se eu já tinha comido, se tinha comido bem, se estava agasalhada, se tinha dormido bem, se estava bem e se era feliz. 
Recordo-me quando deitava a cabeça nas suas pernas, a carinhosamente me ia mexendo no cabelo e me dando chapadinhas na cara, tão típicas suas.
Ao fechar os olhos, recordo-me do seu cheiro (misturado com os cremes), recordo-me do som da sua voz (que tanto me acalmava), do timbre da sua gargalhada (que fazia qualquer um rir), do som dos seus passos (pequeninos pelo corredor), quando brincava consigo, e dançava consigo e cansada dizia “aí xaninha já não tenho energia para isso”, quando ficava feliz quando (de vez em quando) tínhamos pizza para comer, quando pela janela do refeitório eu lhe chama quase gritando “Mirinha!” e de forma maternal acenava-me e mandava um beijinho com a mão, e que eu agarrava e colocava no coração. 
Recordo principalmente quando eu lhe dizia “Mirinha, cuide muito de si, quando eu não conseguir, não a posso perder, sim!” e respondia-me dizendo “reza por mim!”.
Pois agora não posso mesmo fazer mais nada se não rezar e me recordar de como é bom sentir um colo de avó,  um colo de irmã . 
Quando for grande quer ser igual a si. 
Na simplicidade e com poucas palavras mostrar que a vocação é uma dádiva linda. 
As vezes vem um grito do fundo a dizer “VOLTE!”, e uma grande vontade de lhe pedir perdão, por não ter cuidado mais de si, mas sei que nada agora disso vale a pena, mas fica a certeza de uma dor de eterna saudade com a alegria de a recordar.
-“Aí a minha Xaninha, gosto tanto de ti” 
-“E eu de si mana, muito muito muito !” ⭐️

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