O homem, de Sophia de Mello Breyner
Era uma tarde de fim de Novembro, cerca de 4 h de um dia sem chuva nem sol. Eu caminhava no passeio depressa, a certa altura encontrei-me atrás d'um homem pobremente vestido que levava ao colo uma criança loira, cuja beleza não se pode descrever. Passei á frente levada pelo movimento das pessoas, mas ao passar olhei para trás, o homem era extremamente belo por volta dos 30 anos com o corpo comido pela fome, a cara mostrava o belo desenho dos ossos e tinha olhos de solidão e de doçura . Nesse momento o homem levantou a cabeça para o Céu Como contar o seu gesto? A sua cara escorria sofrimento; Tinha uma expressão de resignação e de pergunta; Caminhava muito lentamente do lado de dentro do passeio e muito direito; Com a cabeça levantada olhava o Céu; Mas o céu era silêncio! O que fazer? Era como nos sonhos que queremos agir e não podemos, tinha as mãos atadas, a sua solidão separava-o de mim, sentia a cidade empurrar-me e separar-me do homem, não sabia o que fazer. Tinha a alma e ...